ESTAR ZANGADO NÁO É SER MAU...

Estou a escrever este post, mais como uma anotação, do que um texto por si mesmo...
Acabei de ter uma sessão com uma adolescente.Cheia de raiva, cheia de zanga e a sentir-se muito mal por sentir isto...

Sem contar como decorreu a sessão, de forma a ela poder exprimir o que estava a sentir, esta experiência, mais uma vez, fez-me reflectir sobre as mentiras que contamos uns aos outros pela vida fora: os pais mentem ao filhos, os irmãos contam mentiras entre eles, e passamos a vida a mentir; o que é pernicioso aqui, é que julgamos que estamos a falar verdade, pois ACREDITAMOS piamente que aquilo que nos dizem é verdade.

De que é que estou a falar?...
Pois então, pense: Quantas vezes lhe disseram que você era mau e feio, porque não se comportou como os adultos queriam, e como convinha à sociedade de que estava rodeado?
Quantas vezes lhe disseram que você é que era culpado(a) do que se estava a passar em casa?...Que nunca fazia nada de jeito, e que tudo o que fazia era da sua obrigação?...
Acredite que se eu continuasse, não teria tempo suficiente para enumerar tantas mentiras, ou pelo menos NÃO VERDADES que se ouvem pela vida fora...

Mas desta vez, quero situar-me na RAIVA, que sempre nos disseram que era mau sentir, e que se sentíssemos, iríamos ser castigados por isso...


Vou transcrever uma parte de um texto de um homem que admiro muito, tanto pelo seu percurso de Vida, como pela forma despojada com que vive...( e despojada não significa pobre...): THICH NHAT HANH, vietnamita budista a viver em exílio em França, onde iniciou uma comunidade.
No seu livro "A RAIVA", ele diz o seguinte:

"Sabemos que, quando nos sentimos com raiva, devemos controlar as nossas reacções;principalmente falar ou fazer o que quer que seja.Não é sensato dizer ou fazer algo quando estamos zangados.É urgente que nos centremos em nós próprios para tratarmos da nossa raiva.
A raiva é uma zona de energia dentro de nós.É uma parte de nós.É como um bebé que está a sofrer e do qual temos que cuidar.A melhor forma de o fazer é DESENVOLVER outra zona de energia que possa cuidar e abraçar a nossa raiva.A segunda zona de energia é a energia da CONSCIENCIALIZAÇÃO"

Com a CONSCIENCIALIZAÇÃO nós temos possibilidade de entender porque estamos com raiva (raramente é por aquilo que pensamos, mas sim porque nos estamos a lembrar de situações mais antigas, e a situação que despoleta a raiva "presente" é a situação  gatilho).

Tratar da nossa raiva não carece de violência;não precisa de a eliminar julgando que ela é má e o "outro lado" de si é que é bom; a raiva é aquela parte de nós primária, infantil e ferida que precisa de cuidados e de sentir que é aceite e disciplinada, para que possamos conviver com ela.

Quanto à minha adolescente da sessão...percebeu que não é uma pessoa má por se sentir com raiva;percebeu que, para além da raiva ela também sente alegria, contentamento, prazer, bondade e compaixão.

Ensiná-la a viver com tudo isto dentro dela é o PROPÓSITO...

E você, quando está com raiva, faz o quê?...

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